terça-feira, 20 de novembro de 2012

A permanência de um Cigano


Sera que alguém já percebeu,
Que um dia de cada vez, 
Indo por partes,
Todos gostamos de ser achados? 

Que achem nossos segredos, 
Nossos piores pesadelos, 
Nossa caixinha de lembranças, 
Até mesmo aquele fetiche horrendo. 

Porque achando isto, 
Nos acha um pouco, 
Nem que seja só mais um pedacinho.
Nos achamos com ternura naquele fato que não tem rua, 
Mais escondido que achado pelo mundo a fora. 

Guarda-te o segredo para acha-lo no tumulo, 
Guarda-te oque deve ser escondido 
Para que te olhem e te vejam na caixinha de musica que o guarda.

Porem sou mais perdido que achado
Sou perdido de amor,
Sou perdido de meus segredos, 
Sou perdido de meus anseios.
Me perco e me acho nesse turbilhão de cores, sons e sabores que permeiam tudo isto achado. 

Apenas me perco para me guardar. 
Apenas me acho para me perder.
Talvez seja esta a permanência da alma de cigano, 
Que se perde se achando, que nunca perde o ponto de referencia

Que afinal era ele e aquele cantinho dele mesmo.




João Paulo Capovilla Francischini 20.11.2012




sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O que Traz

Não sei realmente,
Não sei quantas vezes tentei subir a arvore cheia de espinhos,
Quantas vezes eu perdi a unha do dedão,
Quantas vezes corri atras dos gatos,
Quantas vezes chorei por medo da escuridão.

Me lembro vagamente,
Do cimento da quadra cheio de terra,
Da água fresca da torneira,
Dos pega-pega, pique-esconde, pega-turma e pega-ladrão.

Do meu pai a me jogar na piscina,
Da minha mãe a me ensinar a nadar,
Do sangue e terra no joelho a escorrer,
Ah, como era bom me machucar.

Realmente não ligava,
Para quanto dinheiro precisávamos,
Porque eu estava rico com aquela Fada-dos-dentes.
Comprei com aquele dinheiro e um empréstimo um peixinho de aquário.
Como foi triste quando ele morreu no carro.

Não me vem a cabeça o nome dos que me acompanharam,
Mas me esteve sempre o verbo do que representavam.
Me vem com o Toque do Cajado de Hermes,
Até mesmo o pé de amora que nem mesmo deuses alcançavam o alto,
Mas com certeza, somente com os de baixo eles se deliciavam,
Se sujavam e até mesmo guerreavam, naquele joga-joga de cores borradas na camiseta,
Que era feliz até quando você chegava em casa para ouvir sua mãe gritar.

Se tem algo do qual me orgulho era de ser criança,
Este é um orgulho de uma vida inteira,
Até merecemos ganhar um troféu.
Porque, até mesmo Hermes e Orfeu, não gostam de cantar e carregar
Estes Hades&Perséfone do mundo abaixo de Zeus





João Paulo Capovilla Francischini 05.10.2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

SoLua, Kamelot, Serpentes e o Vácuo


- No começo me enganei, pensei que voce era silencio, mas sabia que faltava algo. Você é o som que sobra, é uma parte de cada letra do Livro da Vida, é a paródia que você mesma escreveu.

- Uma cama desarrumada, emana certo calor dos sonhos. Aliás, você comanda mesmo o mundo a sua volta ?

- Comando tudo que toco, mas ainda não me toquei.

- Você já sonhou alguma vez Kamelot ?

- Certamente ja sonhei, mas o sonho ainda não me sonhou. Sempre que sonho sou vazio, sou olhos que veem, ouvidos que ouvem e tatos que sentem, mas não me sou. Como vê, sou uma estatua que ainda não decidiu oque quer ser. Por enquanto sou quimera.

- E essas ninfas em seus pés, elas vão acabar por crescer.

- Já disse que ainda não me fiz, toquei o mundo mas o mundo não me tocou. Não há o porque do mundo me defender, no momento sou apenas metade da paisagem.

Ela se sentou a minha frente, seus cabelos ruivos claros, olhos roxos e tracos finos me deixaram desconfortável. Me mudei um pouco para o lado.

- SoLua ... você sempre esteve antes de tudo. Você é sua própria avó e neta, filha do Tempo e da Coincidência. É dificil de te compreender, mas acho que você é o vácuo onde a serpente se enrola e engole seu rabo.

- A torre toca o céu ou o céu toca a formiga?

- Me responda....

- Eu sou a serpente.

- Mas...

- Você é o vácuo, Road Kamelot, você sempre esteve. Nunca percebeu o jeito que engole o mundo, mas mesmo assim não o é?  Você realmente, tira o folego quando se abre, todo vácuo é Deus do que engole, vazio e cheio ao mesmo tempo. Porem, sinto em lhe dizer, um vácuo quimera ... Quem conseguiria pensar nisso? Mesmo eu que te antecedo não te pensei, porque sinceramente, antes de estar... Você não era.

- Então .... Quais alquimistas conseguiram suprir este vácuo ?

- Os que brincam com rosas vermelhas.

- E os que pintam ?

- Apenas viram o vácuo do avesso, como se fosse um bolso.

- Terei de me ensanguentar para tal então ? Justo eu, estátua de quimera humana incompleta.

- Terá de engolir sangue apenas do que acha que é vida.

Ela se levantou como um gigante, mesmo sendo uma pequena bailarina. Ela se virou para o silencio e me olhou por trás, como se soubesse cada lasca do que eu era naquele momento, e por fim fechou os olhos e se virou.

- Sir Road Kamelot, você é metade da paisagem mas não virou o vácuo somente metade. Não está inteiro. Lhe darei o sonho de viver como humano, então vá e sinta as Letras do livro. Veja o silencio com seus próprios olhos, se engula e seja meu gigante Pequeno preferido.

                                        


João Paulo Capovilla Francischini 24.09.2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não faz sentido


Fecharam a porta a minha frente
Duas trancas diferentes 
"Click"... "Click"
Ainda sinto seu vento passando rente.

Tudo perde a razão que nunca teve nestas noites

Sempre gostei do rio frio,
Não dos quentes e atrativos.
E sim dos frios que chamam os de coração em brasas.

As luzes se apagaram,
Quem bateu as palmas desta vez?
O show não acabou!
Quero o resto da peca, quero pular no palco e gladiar um pouco mais.
Tudo que peco é que se abra as cortinas para eu pular na arena
Que se abaixe o plano de fundo, que se ascenda os holofotes,
Que se tiver algum dono do teatro, que solte as coleiras dos leões
Que  jogue do alto as cobras africanas
Que chame ao palco os palhaços mais risonhos
Os cientistas menos loucos
E o fogo mais quente.

Pois apesar de tantos "que's" 
Quero lutar para que quando eu de meu pulo final no rio
As luzes se ascendam e eu observe os que estão na plateia 
E quando finalmente chegar em seu fundo
Molhe os que aplaudiram de pé 
Pois nesta hora, a água irá se aquecer com meu sorriso.





João Paulo Capovilla Francischini 14-06-2012

sábado, 9 de junho de 2012

Velas para meu namorado


Ao mesmo tempo que gritava
Sussurrava contos e fábulas em meu ouvido
Me abracava com os olhos
Me beijava com o sorriso
Era assim ele, deitado na cama  naquele dia frio
Deixando entrar e penetrar as poucas faíscas de sol da manha.

- Por que estais tão longe meu Romeo ?
- Se não quiseres que meu coração te devore, é melhor ficarmos assim.
- Ora ora (disse delicadamente) quanta insegurança, suba na cama comigo logo, não se acanhe, quero uma dança...
-Estais louco ? Uma dança em cima do colchão a esta hora?

Não tive tempo para pensar,
Já estava amarrado em seu braco
Colado em seus olhos
E seu perfume devorava aos poucos minha sanidade.

Não que eu tivesse asas, mas perdi meu chão.
Afundava sem querer a cada passo desmedido

O chão tremeu ousadamente
Ainda não tinha minhas asas, porem certeza eu tinha que ao contrário do chão seus bracos estavam firmes.

-Se me soltar eu te mato.
-Se morrer eu te beijo
-E se o chão chegar ?
-Voltamos para a cama onde tudo é mais intenso, cada palavra, cada chamego.





João Paulo Capovilla Francischini 09-06-2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Nas fileiras da cruz cotidiana

Em minha mao direita os 12 pecados
Na ponta extrema da outra as 7 peles do cordeiro
As 3 entradas seladas combatem entre si
Chifres e harpas festejam o fim
6 pernas cavalgantes costuram o céu para uivar
8 tentaculos divinos balancam as estrelas sob o cometa nordico da noite
O Sol traz a chuva selando tais memorias
O portao voante a minha frente tras 6 simbolos 1 brasa e 2 céus dividos pelo homem
Com meus chakras mediterraneos lhe mostro a seta
Que profundidades te acompanhem até a abertura da montanha
Lhe ordeno com meus centavos Lorde dos 18 mares
Torne tais ferros nossos, que se faca a forja em meu olhar !

terça-feira, 29 de maio de 2012

Montanhas de verdade ultrapassam o viver

Ele estava com uma doença cronica,
Em seu leito de morte fui o visitar.
" -Não acredito que meu tio esta a morrer!"

Arrastei a cortina branca, e vi meu tio Arnaldo deitado em uma cama quase que inteira branca.
" - Porra, ele odeia esta cor. Sempre tão colorido foi ! Da próxima vez irei lhe trazer alguns baloes para ele  se animar "

-Oi tio...
- Ora ora, se não é meu sobrinho baitola haha. Não ligue para meu estado, tenho uma coisa importante a lhe dizer.
- Diga seu bichinha rs, sou todo ouvidos.
- O legado de tios. Passe-o a dia-a-a-nte.

Aquele silencio me perfurou certeiramente. Enfermeiras quase que em uma maratona entraram no quarto. Uma delas checou seu pulso, virou o dela.
Estava eu carregando agora o legado. Ainda ressoava em meus ouvidos as ultimas palavras coloridas tão quentes como o ultimo punhado de sol da tarde.

 - Vidas mais tarde -


Minha primeira lembrança do meu tio :
Eu tinha uns 4 ou 5 anos na época, tinha acabado de chegar no almoço em família ( e que família ! ).
Olhei para o alto da escada e vi meu tio, com algumas manchas vermelhas na pele e um rosto que não deixava o riso sair por pouco.
- Olha se não é meu sobrinho baitola !
Algo dentro de mim se separou como um amontoado de borboletas e comecou a voar. Eu estava leve e sabia bem oque falar.
Com meu sorriso banguelo por ter comido um sonho respondi :
- Aah sai fora tio! Você que é bichinha !
- E as namoradas ? Aposto que o pipi ja diminuiu bastante !
- Maior que o seu ! Tenho um poste você palito de dente hahaha!

Comecei a correr, ele correu atrás de mim. Me pegou alguns passos depois, levantou minha camisa e começou a assoprar em meu umbigo.
Fiquei rindo feito louco enquanto me remexia feito lagartixa, dando tapas sem querer em seu rosto.
Quando ele parou ouvi uma voz meio grave ao fundo.
- Oi Ronaldo.

O namorado do titio chegou.

                                                    

João Paulo Capovilla Francischini 29.05.2012